23 de jul. de 2018

Sete anos e um balanço

Essa semana foi bem tumultuada para mim. Nada em especial, mas foi conturbada. Me dei conta de que sete anos se passaram desde os dois AVCs. Para os que não sabem, os AVCs ocorreram no mesmo período de internação quando estava sendo tratada do primeiro.

Não foi um período fácil na minha vida e na vida dos que me cercavam. Muitas dúvidas, anseios, medos e outros sentimentos não muito confortadores. A perplexidade tomava conta.

Mas como tudo na vida, passa. E passou. De forma diferente, mas passou.  Muita coisa foi adaptada. Muitas superadas. Muito aprendizado. Não há definição para o que veio dessa transformação.

Mas de aprendizados, posso destacar alguns.



Aproveite o momento presente. 

Na minha história, eu saí para uma caminhada no parque e voltei para casa um mês depois da internação. Sem andar, sem falar, sem mexer o meu lado direito. Precisei de enfermeira ao meu lado 24hs.

Conheci pessoas com problemas como os meus. Ajudei algumas. Ajudo outras.

Agora me diz, o que aconteceu com aqueles vinte mil feitos plano naquele dia? Nada, e a vida continuou. Não estou defendendo uma vida sem planejamento, mas estou alertando para a ansiedade que o excesso de futuro causa em nossas vidas. Sabemos que a ansiedade é o mal do século.

Fiz curso de meditação. Entrei de cabeça na Comunhão Espírita. Fui conhecer o Budismo. Não larguei as missas que gosto (esporádicas, mas valiosas). Escutar bons conselhos não fazem mal nenhum. Ao contrário, nos ajudam sempre.

Prefiro ser um sincretismo ambulante, a ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Acho que o Raul me entenderia!

Sim, também sou adepta dos livros de autoajuda. Não gosto muito desse nome que deram a essa categoria. Mas é assim que é. Entre as minhas leituras, umas mais sérias, outras leves, eu tento encaixar um livro dessa categoria na rotina. Vamos oxigenar a cabeça, não é mesmo?

Entre uma e outra leitura, me deparei com algumas surpresas positivas. Inclusive algumas com referência à recuperação de um derrame. Posso adiantar que o saldo desse mix de leitura é positivo

Aprendi a valorizar mais o presente. Parei para prestar mais nos sinais que a vida nos dá.

A escutar mais e a falar menos - quase virei uma muda, já que nunca fui de falar muito! :) Mas isso também tem a ver com uma seqüela que tive: não consigo lidar com muitas conversas ao mesmo tempo, acabo não prestando atenção em nenhuma. Minha conexão agora é para poucos. Tenho que deliberadamente mudar o meu foco para passar para outro assunto.

O falar também não flui como antes. Tenho que elaborar mais o meu pensamento. Pensar mais no vocabulário. Improvisar se tornou uma pedra no meu sapato. Tenho que ensaiar mais na minha cabeça.

O mindfulness (estar presente) tomou conta de mim. Tem que ser o aqui e agora. Não dá para divagar muito. Quando começo a divagar além do presente, tento voltar ao foco. Nem sempre consigo, mas vou tentando. É um exercício a todo momento. Perdi o foco, perdi a linha de pensamento.

Considero o saldo dessa nova configuração - prefiro não chamar de seqüela - positivo. Libertador. Simplificou.

Desconectei para me conectar. Doido, não é?


Exercícios são necessários

É isso aí. Sendo bem simples e direta. Tem que fazer exercício. Antes, durante, depois. Para a vida inteira.

Dou crédito à minha excelente recuperação física à memória muscular. Comecei a frequentar academia já aos 15 anos e continuei nesse ritmo minha vida inteira, com pequenos intervalos esporádicos.

Hoje, após o AVC, reparo facilmente que o lado afetado sem exercício se enfraquece. E não precisa de uma pausa longa para isso ocorrer. Até mesmo quando mudo o tipo de estímulo, posso ter uma alteração na força adquirida anteriormente.

Conclusão: vou me exercitar enquanto a vida deixar, de forma equilibrada. Os benefícios são infinitamente maiores.

Conselho: descubra a sua atividade física. Se for uma coisa que você gosta, melhor ainda. Se você não gosta de exercício, atualmente existe uma variedade enorme para você descobrir o que mais gosta ou, se preferir, o que menos te faz sofrer. Mas tem que mexer o corpo!


Cuide da sua cabeça

No mundo louco em que vivemos hoje, não é uma tarefa fácil manter a mente tranquila. Problema é o que não falta. Todo mundo tem o seu.

A nossa saúde começa na nossa mente. Já existem estudos de física quântica que mostram que a nossa mente é responsável por nossa saúde, tanto mental como física.

Podemos exercitar isso de uma infinidade de formas: terapia, meditação, religião, doutrina, relaxamento, yoga. Chame como você quiser, encontre a sua fonte de fé. Procure se conhecer. Não precisa ser um pacote fechado. Monte a sua receita. Experimente.

A sua cabeça em ordem já é grande parte para a saúde de seu corpo.


Não desista!

Um dos tabus mais pesados no AVC é quando nos dizem que se não recuperar até os seis primeiros meses, depois você não consegue recuperar.  MENTIRA!!! Da mais lavada!!!

Existem AVCs e AVCs, cada um com um tipo de característica, única. Mas a capacidade de recuperação, mesmo que parcial, existe.  Siga o seu objetivo. Lute pela sua melhora. Não deixe essa responsabilidade na mão do outro. Você é quem pode fazer algo por você.

Os profissionais que nos acompanham nessa luta são anjos que devem nos orientar para criarmos nossa próprias asas. Profissionais fundamentais (fisioterapeutas, fonaudiólogos, terapeutas ocupacionais, etc) em nossa caminhada. Acreditem que o que eles aprenderam pode nos ajudar. E nos ajuda.